quarta-feira, 13 de junho de 2007

Minha Madrinha


Saudades dessa pessoa maravilhosa que se foi em 2005, me deixando aqui, sem seu ombro amigo, seus carinhos, seu amor, seu colo, enfim todo aquele aparato de sentimentos e gestos para uma pessoa se sentir protegida.

Até quando recebi a notícia de seu falecimento, eu acreditava que minhas maiores perdas foi meu amor próprio, meus filhos e ter deixado minha madrinha em outra cidade e ter vindo embora para onde moro com meus pais.

Ela era já de idade, teve um acidente vascular cerebral em 1998 e faleceu em 2005. Não era da família, e sim vizinha dos meus pais, que os ajudou quando foram morar no Rio de Janeiro após o casamento.

Porém minha mãe por várias vezes ficou sem falar com ela, elas tinham um certo desentendimento, minha mãe achava que ela e sua filha ( então madrinha de minha irmã) queriam nos comprar, a situação financeira da minha madrinha sempre foi muito melhor do que a dos meus pais. E por não ter crianças na família deles, eu e minha irmã éramos como filhas para elas, ganhávamos roupas, brinquedos da moda, viajávamos. Minha madrinha e a filha dela, a qual chamo de tia até hoje, fazia por mim e por minha irmã tudo aquilo que meus pais não podiam oferecer. Além disso, minha mãe, como já citado, insistia que meu pai tinha um caso com minha madrinha.

Meu padrinho faleceu quando eu tinha oito anos, também era muito ligada a ele. Não fui em enterro de nenhum dos dois, prefiro guardar a lembrança deles vivos, como eles estão dentro de mim.

Às vezes, penso que minha madrinha não faleceu, que a qualquer momento o telefone vai tocar e eu vou ouvir a voz dela , ou o carro vai encostar na minha porta e ela vai descer dizendo que tudo está bem, mas logo caio na real e lembro que ela se foi.

A saudade invade meu ser, minha cabeça dói de tanto que chorar. Nessas horas somos egoístas, queremos as pessoas para sempre junto da gente, queremos que elas sejam eternas.

Lembro-me de quando entrei na faculdade, ela comemorando, querendo comprar livros, aparelho de pressão, roupas brancas, toda empolgada. Meus pais também ficaram, mas não era tão visível. Certo dia quando cheguei da aula, passei na casa da minha irmã e recebi a notícia que minha madrinha tinha sofrido um “derrame” e estava no CTI. Num primeiro momento fiquei imóvel, tentando controlar o choro, fiquei meio que em choque e pedi dinheiro a minha irmã que eu ia para o Rio ficar com ela. Minha irmã me conteve e pediu que eu esperasse um pouco, pelo menos ver se ela sairia do CTI ou não.

Fui para minha casa, me ajoelhei na beirada da cama e chorei desesperadamente, ai sim consegui aliviar aquela tensão, pedia a Deus para não levá-la naquele momento, que deixasse ela assistir minha formatura. Durante sete anos ela teve recaídas, mas sempre melhorava.

Nossa aproximidade era tanta que eu sabia quando ela estava bem ou não, sentia uma tristeza, ligava direto para o RJ e ficava sabendo de uma recaída dela. Na hora que ela estava sendo socorrida quando teve o primeiro AVC, eu liguei e minha tia ( filha dela) falou que não podia falar porque a pia da cozinha tinha entupido e estava tudo alagado, achei estranho, mas deixei pra lá.

No dia que ela faleceu eu havia ido ao dermatologista para uma avaliação, e enquanto eu esperava eu ser chamada eu olhava para a parede e via um crucifixo e minha madrinha era muito religiosa. Ali eu sabia que estava tudo se acabando. Eu olhava para o alto tentando não chorar e meu pai reparar. Quando minha mãe me ligou no celular e perguntou se meu pai estava por perto, e eu respondi que sim, então ela me comunicou que infelizmente a minha madrinha havia falecido. Virei para meu pai e falei secamente, como se comunicasse que estava saindo, que minha madrinha havia falecido.

Fiquei ali com aquele nó na garganta, olhando para o alto, segurando o choro. Fui na dermatologista, cheguei em casa queria saber detalhes do enterro onde seria, horas. Seria no mesmo dia as 16 horas. Era quase hora do almoço, uma irmã da minha mãe veio ficar com minha avó e comigo, já que havia decidido que não iria ao enterro. Então meus pais saíram em direção ao RJ.

A toda hora eu ligava para saber o que estava acontecendo, se estava tudo bem, minha irmã também foi, só eu que não e foi sentida a minha ausência. Mas nunca fui em enterro, embora tivesse prometido que só iria ao da minha madrinha, não consegui. Não acreditava que o pior dos pesadelos estava acontecendo: a morte de alguém que eu amava.

A dor que senti foi imensa, doía, parecia que um punhal estava cravado no meu peito, fui para Internet tentar distrair, coloquei ao lado do meu apelido a palavra LUTO, e tanta gente debochou, amigos do meu ex-namorado. A dor se tornou pior, em ver tanta pessoa insensível com o sofrimento alheio, mesmo que eles não gostassem de mim, esperava respeito.

Minha revolta foi grande, bati boca com todos eles via Internet. Minha revolta pela perda da minha madrinha, somado ao desrespeito que sofri me fez agredir verbalmente várias pessoas, difamar elas em orkut, foi terrível aquele momento, mas queria acabar com tudo aquilo que me atormentava, sem saber o que era exatamente.

Na época tomava lítio e sertralina, além de sonebom. Mas nada me vazia dormir, finalmente às 23h quando minha avó e tia foram se deitar que eu consegui chorar e descarregar aquele peso das minhas costas e aliviar o nó na garganta.

Meus pais só voltaram no dia seguinte, e trouxeram algumas coisas que eram dela, e quase tudo que era dela eu quis ficar exceto algumas roupas e santos, mas móveis de quarto, bonecos, colchas, coisas que ela gostava. Me fez bem isso, me deu segurança, saber que tinha algo conhecido e querido por perto, algo que me remetia a minha infância.

Até hoje as vezes choro ao lembrar dela, mas de saudade e não mais de pesar, sei que cada um tem seu tempo aqui na Terra, e o dela se esgotou. Guardo comigo as lembranças, o amor.

Minha madrinha onde estiver, se estiver ( não sei em que acreditar) olhe por mim, me proteja, me tire do sofrimento.

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