quarta-feira, 13 de junho de 2007

Porque não choro

Certa vez estava na psicóloga e ela me perguntou porque as vezes quando estou falando parece que prendo o choro. Respondi que era inconsciente, que apesar de eu ter muitas emoções a flor da pele, ser sensível a uma rejeição, a uma fala mais agressiva, eu segurava o choro, e chorava sozinha.

Nunca havia me ligado o porquê disso, mas hoje tenho ainda essa mania, mas a consciência de que tento ser uma fortaleza, o que na verdade não sou. Desde pequena aprendi a me virar sozinha, tentar resolver meus problemas sozinha, nunca pude contar muito com meus pais, e tentava polpar minha madrinha, devido sua idade.

Então sempre segurei o choro, guardando mágoas, revoltas para chorar quando estivesse sozinha, sem ninguém ver ou perceber. Com essa atitude eu me tornava agressiva verbalmente, arrogante, muito impulsiva, a ponto de levar uma discussão as últimas conseqüências como boletins de ocorrência, justiça.

Nossa, quantas vezes fui chamada em delegacia, em juizado de causas especiais para resolver atitudes que eu havia tomado como ir até o trabalho de alguém para tomar satisfação, ou ficar ligando insistentemente.

Quando não dava para descontar em alguém eu consumia demasiadamente, gastava horrores com Internet, sapatos, bolsas, CDs, batom. Essa era uma compulsão que aliviava temporariamente a tensão de não querer chorar, desmontar na frente dos outros. Tinha que me manter forte, a fortaleza.

Hoje sei que isso não é preciso, também a questão da agressividade está quase nula, a compulsão passou., embora eu ainda me encontre com muitas dívidas ( por esse fator e por outros), mas chorar na frente de alguém ainda é pesadelo, não consigo.

Chorar na frente de alguém não representa uma desmoralização pra mim, mas fraqueza em não conseguir lidar com minhas emoções, quer sejam de emoção boa ou de depressão, raiva. Porém muita coisa consigo superar, rejeição de quem não merece meu respeito, ou amizade, ou um deboche.

Enfim já consigo distinguir as situações fantasiosas, que antes eram freqüentes, e as situações reais, e sofrer por aquelas que realmente existem, sofrer no sentido de chorar, para descarregar a emoção, e depois tentar resolver o problema sem impulso, com calma, sem alarmar a todos, etc.

Minha Madrinha


Saudades dessa pessoa maravilhosa que se foi em 2005, me deixando aqui, sem seu ombro amigo, seus carinhos, seu amor, seu colo, enfim todo aquele aparato de sentimentos e gestos para uma pessoa se sentir protegida.

Até quando recebi a notícia de seu falecimento, eu acreditava que minhas maiores perdas foi meu amor próprio, meus filhos e ter deixado minha madrinha em outra cidade e ter vindo embora para onde moro com meus pais.

Ela era já de idade, teve um acidente vascular cerebral em 1998 e faleceu em 2005. Não era da família, e sim vizinha dos meus pais, que os ajudou quando foram morar no Rio de Janeiro após o casamento.

Porém minha mãe por várias vezes ficou sem falar com ela, elas tinham um certo desentendimento, minha mãe achava que ela e sua filha ( então madrinha de minha irmã) queriam nos comprar, a situação financeira da minha madrinha sempre foi muito melhor do que a dos meus pais. E por não ter crianças na família deles, eu e minha irmã éramos como filhas para elas, ganhávamos roupas, brinquedos da moda, viajávamos. Minha madrinha e a filha dela, a qual chamo de tia até hoje, fazia por mim e por minha irmã tudo aquilo que meus pais não podiam oferecer. Além disso, minha mãe, como já citado, insistia que meu pai tinha um caso com minha madrinha.

Meu padrinho faleceu quando eu tinha oito anos, também era muito ligada a ele. Não fui em enterro de nenhum dos dois, prefiro guardar a lembrança deles vivos, como eles estão dentro de mim.

Às vezes, penso que minha madrinha não faleceu, que a qualquer momento o telefone vai tocar e eu vou ouvir a voz dela , ou o carro vai encostar na minha porta e ela vai descer dizendo que tudo está bem, mas logo caio na real e lembro que ela se foi.

A saudade invade meu ser, minha cabeça dói de tanto que chorar. Nessas horas somos egoístas, queremos as pessoas para sempre junto da gente, queremos que elas sejam eternas.

Lembro-me de quando entrei na faculdade, ela comemorando, querendo comprar livros, aparelho de pressão, roupas brancas, toda empolgada. Meus pais também ficaram, mas não era tão visível. Certo dia quando cheguei da aula, passei na casa da minha irmã e recebi a notícia que minha madrinha tinha sofrido um “derrame” e estava no CTI. Num primeiro momento fiquei imóvel, tentando controlar o choro, fiquei meio que em choque e pedi dinheiro a minha irmã que eu ia para o Rio ficar com ela. Minha irmã me conteve e pediu que eu esperasse um pouco, pelo menos ver se ela sairia do CTI ou não.

Fui para minha casa, me ajoelhei na beirada da cama e chorei desesperadamente, ai sim consegui aliviar aquela tensão, pedia a Deus para não levá-la naquele momento, que deixasse ela assistir minha formatura. Durante sete anos ela teve recaídas, mas sempre melhorava.

Nossa aproximidade era tanta que eu sabia quando ela estava bem ou não, sentia uma tristeza, ligava direto para o RJ e ficava sabendo de uma recaída dela. Na hora que ela estava sendo socorrida quando teve o primeiro AVC, eu liguei e minha tia ( filha dela) falou que não podia falar porque a pia da cozinha tinha entupido e estava tudo alagado, achei estranho, mas deixei pra lá.

No dia que ela faleceu eu havia ido ao dermatologista para uma avaliação, e enquanto eu esperava eu ser chamada eu olhava para a parede e via um crucifixo e minha madrinha era muito religiosa. Ali eu sabia que estava tudo se acabando. Eu olhava para o alto tentando não chorar e meu pai reparar. Quando minha mãe me ligou no celular e perguntou se meu pai estava por perto, e eu respondi que sim, então ela me comunicou que infelizmente a minha madrinha havia falecido. Virei para meu pai e falei secamente, como se comunicasse que estava saindo, que minha madrinha havia falecido.

Fiquei ali com aquele nó na garganta, olhando para o alto, segurando o choro. Fui na dermatologista, cheguei em casa queria saber detalhes do enterro onde seria, horas. Seria no mesmo dia as 16 horas. Era quase hora do almoço, uma irmã da minha mãe veio ficar com minha avó e comigo, já que havia decidido que não iria ao enterro. Então meus pais saíram em direção ao RJ.

A toda hora eu ligava para saber o que estava acontecendo, se estava tudo bem, minha irmã também foi, só eu que não e foi sentida a minha ausência. Mas nunca fui em enterro, embora tivesse prometido que só iria ao da minha madrinha, não consegui. Não acreditava que o pior dos pesadelos estava acontecendo: a morte de alguém que eu amava.

A dor que senti foi imensa, doía, parecia que um punhal estava cravado no meu peito, fui para Internet tentar distrair, coloquei ao lado do meu apelido a palavra LUTO, e tanta gente debochou, amigos do meu ex-namorado. A dor se tornou pior, em ver tanta pessoa insensível com o sofrimento alheio, mesmo que eles não gostassem de mim, esperava respeito.

Minha revolta foi grande, bati boca com todos eles via Internet. Minha revolta pela perda da minha madrinha, somado ao desrespeito que sofri me fez agredir verbalmente várias pessoas, difamar elas em orkut, foi terrível aquele momento, mas queria acabar com tudo aquilo que me atormentava, sem saber o que era exatamente.

Na época tomava lítio e sertralina, além de sonebom. Mas nada me vazia dormir, finalmente às 23h quando minha avó e tia foram se deitar que eu consegui chorar e descarregar aquele peso das minhas costas e aliviar o nó na garganta.

Meus pais só voltaram no dia seguinte, e trouxeram algumas coisas que eram dela, e quase tudo que era dela eu quis ficar exceto algumas roupas e santos, mas móveis de quarto, bonecos, colchas, coisas que ela gostava. Me fez bem isso, me deu segurança, saber que tinha algo conhecido e querido por perto, algo que me remetia a minha infância.

Até hoje as vezes choro ao lembrar dela, mas de saudade e não mais de pesar, sei que cada um tem seu tempo aqui na Terra, e o dela se esgotou. Guardo comigo as lembranças, o amor.

Minha madrinha onde estiver, se estiver ( não sei em que acreditar) olhe por mim, me proteja, me tire do sofrimento.

Medo II

Bom, já falei sobre minha relação com minha família, mas tenho outro medo quanto a eles. Não, não é o enfrentamento de mudar de profissão, de anunciar que estou saindo de casa, ou apresentar um novo namorado.

Pode parecer estranho o que vou dizer, mas tenho muito medo de perdê-los por morte de um ou dos dois, a priori são as únicas pessoas que ainda tenho perto de mim. Minha irmã mora em outra cidade, é casada tem a família dela, eu não tenho ninguém além deles, nem amigos.

Muitos me perguntam por que eu sendo independente financeiramente dos meus pais, eu não moro sozinha, ou divido um apartamento com alguém, eu respondo, não só o fato de me sentir mais sozinha ainda, mas a dependência que eles têm de mim também.

De certa forma eu ajudo nas despesas de casa, ajudo com as novas tecnologias ( por exemplo celular), alerto sobre algumas coisas ( como esses golpes de seqüestro por telefone). Ah, alguém pode virar e dizer que posso fazer isso a distância, mas meu pai não agüentaria com as despesas sozinho, além do mais me preocupo com a saúde deles.

Meu pai é hipertenso, diabético, caminha as vezes, mas tem mania de médicos, exames e remédio, Minha mãe tem enfisema pulmonar, problemas de angiologia ( já teve trombose duas vezes nas pernas e em um braço), não tem déficit de locomoção, mas as varizes dela doem muito, ela não pára, sempre aparece roxos enormes pelas pernas que “queimam”. Além disso cuida da minha avó de 81 anos e mais de 80 kg, que não aceita que ninguém além de minha mãe a leve ao banheiro e dê banho, a não ser minhas outras tias, filhas dela, que nem querem saber dela, visita de vez enquando, pois ela dá trabalho pois já fraturou o fêmur ( tem dificuldade para deambular) e não enxerga mais devido ao diabetes.

Minha mãe está cada dia bebendo mais, e fumando mais ainda, e nem sequer quer ouvir falar em médico, remédios, nunca tomou nenhuma medicação prescrita, prefere a cerveja, esse vício se tornou já um alcoolismo, não passa um dia sem beber e nos primeiros goles já fica alterada, nervosa, agressiva verbalmente, nos humilha, nos provoca.

Isso me irrita, me causa nojo, ânsia, vontade de sumir, como alguém pode se deixar assim. tem dias que nem banho toma, acredito que seja por isso que meu pai procure outras na rua, quem gosta de deitar ao lado de uma mulher cheirando a cigarro e bebida?

Mesmo assim, não consigo encarar a morte dos meus pais, já perdi alguém muito querido, que deixou uma lacuna aberta na minha vida – minha amada madrinha. Perdi meu colo, meus beijos, minhas risadas, meus carinhos.

Só de escrever a emoção, a angústia da perda é enorme, as lágrimas chegam a cair, é uma mistura de ansiedade, saudade e medo, muito medo, pois sei que a idade dos meus pais estão avançando, e eles ficando cada vez mais vulneráveis.

Já perdi filhos, já perdi amores, agora o que falta perder?

Medo I


Existe determinada época da vida que temos que começar a traçar metas, e nesses momentos temos que pontuar as vantagens de se atingir essa meta, mas também as dificuldades que encontraremos para alcançá-las.

Hoje me peguei fazendo isso: determinando metas para minha vida! Confesso que foi desestimulador, não consegui pensar em nada, tudo que pensava me entusiasmava inicialmente, e quando ia pontuar as dificuldades desanimava amassava e jogava o papel fora.

No entanto consegui chegar em algum lugar, nem tão bom assim, mas um medo que eu tenho. Sim medo, medo de me confrontar novamente com minha família como no passado, em momentos que estava em fase maníaca. Era momentos de terror que eles viviam comigo. Engraçado que eu não brigava, mas passava noites e mais noites na rua, em baladas, casas de amigos, sem dar notícias onde eu estava. Gastava horrores de dinheiro com essas “aventuras”.

Bebia escondido, e muito, alguns paqueras, também, escondido, porque certamente eles teriam defeito, como todos os meus amigos tinham, alguns namorados que apresentei, como eu tinha defeitos para eles – meus pais. Minha irmã sempre ficou afastada, vivia um mundo, eu acho, parecido com o meu, cada uma na sua. Eu fazia cursinho e depois faculdade, e ela trabalhava e depois casou.

Do meu pai eu não tinha medo, pois sabia que ele não se dirigia a mim jamais para brigar, nunca o fez, mas em compensação minha mãe, com a língua felina dela, detonava qualquer um, sempre tentou impor suas vontades a todos, e para mim isso era detestável, inaceitável. Sempre fomos muito diferentes, ela muito família e eu muito preocupada em estudos, em amigos. Afinal fui criada longe de tios, avós, primos, pois morávamos em outra cidade.

Sempre entramos em atrito eu e minha mãe, ela queria que eu fosse como minha irmã, fizesse o que ela queria, contasse tudo para ela, e eu jamais fiz isso. Por causa disso sempre levantei suspeitas dela quanto a minha conduta, ela sempre desconfiou de mim. As vezes quando cismava falava onde ia e ela ou ia atrás ou ligava para confirmar se eu estava realmente onde falei, e até hoje é assim, mesmo eu com 29 anos.

Esse “confronto” acontecia por que sentia uma diferenciação no tratamento com minha irmã, pensava que era coisa da minha cabeça, mas hoje vejo que não é não, há uma certa preferência dos meus pais pela minha irmã, que é mais velha. Certamente o fator determinante para isso foi minha personalidade, e pela minha aproximação com minha madrinha, hoje já falecida.

Minha madrinha eu chamava de mãe, e minha verdadeira mãe, tinha ciúmes de nós duas, mas minha madrinha me dava colo, me beijava, me abraçava sem motivo especial, e de meus pais só em datas especiais como aniversários e festas de final de ano. Quanto ao meu pai acredito que a aproximação dele com min há irmã se deu num primeiro momento por receio da minha mãe ( ela cismava que ele tinha algo com minha madrinha que era idosa), e posteriormente, pelo fato da minha irmã ter dado o primeiro neto a ele, o menino que ele tanto desejou um dia.

Queria ter uma família mais unida, a qual eu pudesse dizer eu te amo, abraças, beijar como vemos em novelas, mas aqui não tem jeito já tentei e fui reprimida por isso. Mesmo assim moro com eles, com toda a desconfiança que eles tem de mim, com toda solidão que sinto.

Cogitei já sair e morar só, mas tenho receio de me sentir mais só ainda, já sai de casa uma vez a trabalho, e não deu muito certo, foi um caos, não conseguia administrar a casa, minha vida, além da pressão do trabalho.

Não sinto que eles não gostam de mim, absolutamente, mas há uma preferência pela minha irmã, e o jeito de gostar/amar deles é frio, secos, afastados. Acostumei viver nesse distanciamento, as vezes os olho e sinto uma tristeza, mas penso em algo alegre e fica tudo na mesma.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Apresentação

Me apresentar? Bem isso é muito fácil para mim, mas talvez para quem tentar me descrever seja impossível.

Me chamam de Lilian, mas sempre me refiro a minha pessoa de Eu, talvez um pouco egoísta, mas quem de nós não é egoísta ao menos uma vez

Sou uma incógnita sem expressão, talvez o traço do risco de giz no asfalto após o temporal, ou quem sabe a cor no meio do escuro.

Sou a imensidão do mar e o nada do vácuo, mas até o vácuo é algo. Sou uma errante sem propósito, mas nem todo errante é sem propósito.

Não mudo meu jeito por nada nem por ninguém, vivo conforme minha concepção. Sou chamada por alguns de covarde, por não ousar, mas aplaudida por outros tantos quando discurso.

Sou doce, mas a maior parte do tempo me faço de azeda. Sou atenta, mas me desligo com facilidade.

Me interesso por tantas coisas, mas a física quântica sempre me seduziu. trilhei caminhos brancos silênciosos, ao som do toc toc do salto alto e caí num abismo de uma janela de um sobrado.

Sou alguém que pensa, que atrai pensamentos e que os doa também.

Você me dá uma exclamação e eu te devolvo a interrogação.

sou alguém que vive além do seu tempo, além dos seu limites, mas meu limite é a morte.

(definição feita num fórum de discussão em filosofia)

Sintonia com o mundo real

São 2:19h da manhã, e eu ainda tenho excitação para escrever, o dia hoje foi agitado, médico, emoções e sentimentos a flor da pele. Mas algo que precisa ser escrito, algo que não se cala dentro de mim.

Visitei um blog de um rapaz que tem distúrbio bipolar também, ele não consegue contato com seu médico e está sem receita para adquirir o estabilizador de humor, está a ponto de explodir com alguém ou alguma coisa.

Engraçado como eu me sinto da mesma forma e estando medicada, fiz um comentário lá sobre isso, eu me sinto um barril de pólvora, que a qualquer momento pode explodir. Hoje estive no médico e falamos sobre isso, essa minha irritabilidade, essa necessidade de questionar tudo, de criar provocações de debates, de criticar (construtivamente ou destrutivamente).

Percebo que o medicamento que tomo, o estabilizador de humor faz um efeito grandioso, pois não provoco mais brigas, desentendimentos sérios como antes, não envolvo mais polícia (através de boletins de ocorrência), não processo mais ninguém como antes. O que restou é da minha própria personalidade.

Os esotéricos de plantão poderão falar que é característico do meu signo, mas na verdade é um confronto entre meu conhecimento, as situações e meu autocontrole: As situações acontecem, aciona meu conhecimento que entra em atividade, mas meu autocontrole continua inerte, parece que falta pilha para ele funcionar.

Fico indignada muito fácil, falo tudo muito claramente, diretamente com os envolvidos, na linguagem popular, (reparem o termo que usei aqui) eu não sei engolir sapos, não sei esperar a hora certa e o lugar para intervir numa situação, não sei usar o conhecimento necessário para as situações que se apresentam.

Você deve agora estar se perguntando como me sinto diante disso, não é?

Uma fracassada, capaz de discutir física quântica com um PHd no assunto e não saber se “segurar” para não falar demais. Sinto-me ridícula diante de uma sociedade que prefere gastar cem reais numa roupa da moda, do que oito reais numa revista de filosofia. Sinto-me fora de sintonia no meio social em que vivo, me sinto isolada, excluída.

Tenho consciência que meu conhecimento não é o culpado, e nem as pessoas que me excluem, mas sim a maneira como eu utilizo todo esse conhecimento que adquiri. Tenho que mudar de alguma forma (risos.... tenho que mudar tanta coisa...). Talvez se meu médico estivesse do meu lado vinte quatro horas eu conseguisse me conter ( quem sabe um boneco dele, esquece estou já viajando demais), mas alguma coisa deve ter para eu fazer e me conter mais.

Prometi ao meu médico que iria escrever ao invés de falar e debater. Agora me agüentem será uma enxurrada de textos, e eu já gosto pouco de escrever.

Até que estou me sentindo bem após escrever três textos, comentar em dois blogs, e exteriorizar meu sentimento.

Alguns termos

É interessante quando nós vamos nos conhecendo, percebendo as mudanças que ocorrem na gente, conhecendo melhor a bipolaridade, como criamos alternativas de escape, utilizamos com mais freqüência alguns dados, criamos hábitos. Muitas vezes consciente e outras inconsciente.

Hoje eu reparei na forma com que falo sobre algumas coisas, os termos que emprego, não para suavizar para mim o enfrentamento do fato, mas para não chocar quem me ouve ou lê.

Estava no médico e quando fui me referir a uma tentativa de suicídio, percebi que eu não falava essa palavra há anos, mas ao invés dela utilizo auto-extermínio, pois é menos usual, então quem ouve ou lê não assimila com tanto impacto quanto se eu falasse suicídio.

Outra colocação que também estive pensando, ao ler algumas pessoas num fórum de discussão, é sobre como eu me refiro à relação eu x transtorno bipolar de humor. Muita gente fala: eu sou bipolar, eu sou boderline, eu sou depressivo. Enquanto eu falo, eu tenho transtorno bipolar de humor.

Ora, eu sou uma pessoa, um ser humano, não uma doença. Generalização? Não, racionalização mesmo. Bom se eu sou bipolar, e fulano também é, então tínhamos que tomar a mesma medicação, não é?

Somos seres individuais, cada qual com sua especificidade patológica, o transtorno bipolar é uma doença, e não uma pessoa. Não gosto de personalizar doença, isso se chama estigmatizar, discriminar. Quem é que gosta de ser discriminado aqui?

Tudo bem, todos nós, com ou sem um diagnóstico de bipolaridade, já foi discriminado algum dia por algum motivo, devemos aprender a lidar com isso, mas gostar é outro departamento.

Definitivamente não gosto desse tipo de generalização, ou uso popular, afinal quando gripo não sou nenhuma gripada, eu fico gripada. Logo eu não sou bipolar eu tenho um transtorno bipolar.

Relacionamentos

Hoje é dia dos namorados, pensei que fosse acordar triste porque estou só, mas pelo contrário, acordei animada, levantei, tomei café e passei a manhã lendo uma revista de filosofia, após uma noite de debate pela Internet via e-mail com pessoas acerca da filosofia e o que ela representa para a sociedade.

A tarde eu fui ao médico, meu psiquiatra, um lugar que me sinto extremamente segura, bem. Parece que todos os meus tormentos somem ali, esqueço de tudo aquilo que me irrita, que não está legal comigo. Viajo, entro numa emoção inigualável, algo do tipo você está morrendo de sede e encontra água para beber. Nesses momentos a imprensão que dá é que todos os remédios fazem efeito ali, somente ali.

Mas nem tudo são flores no meu dia, a noite chegou, e junto dela a depressão, aquela sensação gostosa de tranqüilidade desapareceu, e deu lugar a solidão, ao medo, ás lembranças.

Solidão pelo dia e ver amigos acompanhados, fazendo programas juntos, medo de ficar numa solidão eterna, e lembranças do meu passado, dos relacionamentos que tive e que tanto me fizeram mal.

Engraçado que a tarde falei deles e nada me causou, mas a noite sozinha as lembranças eram como navalhas abrindo frestas em minha mente, e cada fresta se transformando num abismo sem fim. O sentimento, a sensação é tão forte que parece que vem de fora, cai nesses abismos e toma todo o corpo causando um tremor interno, uma agitação, sinto o sangue correr mais rápido, trinco com mais força os dentes, mexo a todo momento no cabelo, coço o nariz, balanço as pernas, o coração se acelera, e finalmente a ansiedade misturada a um vazio depressivo se instalou.

Essa lacuna em minha vida pessoal ainda está uma incógnita para mim. Ao passo que quero alguém para conversar, para sair, enfim para me relacionar, por outro lado não quero, não quero alguém que ache que dou piti, ou que estudo demais, ou que sou autoritária, etc. Ai de mim se ousar falar que quero alguém a minha altura, em termos intelectuais, seria ainda mais massacrada, rejeitada, taxada como arrogante.

Talvez seja por isso que sempre me relacionei com pessoas com um nível intelectual bem diferente do meu, sempre bem a baixo do meu, pessoas que nem sequer ouviu falar em Nietzsche, ouviram sobre platonismo, mas nem sabem que a palavra deriva de Platão.

Foram tantos que vacilaram, me fizeram sofrer, entrar nessa cova que me encontro que sinto medo quando alguém interessante se aproxima, eu logo uso todo meu potencial intelectual para assustar essa pessoa e afastá-la de mim.

Meu conhecimento se transformou ao mesmo tempo em defesa e meu maior inimigo.

domingo, 10 de junho de 2007

Errantes?

Engraçado como a própria família trata-nos com certa diferença ao sermos diagnosticados com alguma doença mental, psiquiátrica.

Aqui em casa quando estou em crise todos se apavoram, receiam o que os vizinhos vão pensar, procuram do pastor ao pai de santo, e quando estou bem me detonam, que sou preguiçosa, debocham porque estou gorda (fato este que nunca me incomodou). Além de que tudo que dá errado dentro de casa a culpa é minha, se a luz vem alta, é porque fiquei muito no computador, se o telefone veio alto é porque usei muito ( e olha que eu que pago o telefone, tenho banda larga e não uso- o para nada só celular), se some dinheiro desconfiam de mim ( nunca peguei dinheiro de ninguém para gastar, pedir eu pedia, mas roubar jamais).

Este mês que passou apareceu uma cobrança indevida no cartão do meu pai, no valor de noventa e nove reais, referente a compra de livro. De quem foi a culpa? A quem vieram perguntar se fui eu?

Detalhe, não tenho o cartão do meu pai, nunca o peguei não sei se é visa ou mastercard ou outro, nada, e pior a livraria nem existe na cidade.

Este é mais um fardo que carregamos, sermos apontados como os errantes.

Suspeitas

Por todos esses anos da minha vida presenciei brigas de meus pais por conta de amantes do meu pai. As brigas eram verbais, mas muito duras, minha mãe usava termos chulos, palavrões, difamava feio meu pai. Enquanto meu pai ficava no canto dele ora ouvindo, ora pedindo para ela se controlar.

Meu pai sempre foi atencioso em casa, nunca deixou faltar nada dentro de casa para comermos, ou artigos de limpeza. Não vivíamos num luxo, mas jamais comemos um dia sem carne, mesmo na época que ele esteve desempregado.

Mas virava e mexia estava lá os dois brigando, batendo boca, certa vez por causa de um telefonema, que minha mãe suspeitou ser de uma amante dele ela jogou o aparelho de telefone já de madrugada pela janela, e eu já estava em tratamento, fechava-me no quarto tampava os ouvidos e tinha pavor daquelas palavras que ela me dizia.

Eu nunca tive confirmação total de algum caso do meu pai, minha irmã, disse que já viu, inclusive se metendo e indo atrás da pessoa. Mas eu nunca vi, tive suspeitas, através de alguns atos, telefonemas, mas podia ser tantas coisas.

No entanto essa semana um fato me chocou: fui numa locadora de perto onde eu morava, por ter filmes / DVD mais variados, e quando peguei um show de certo artista, um show novo dele, que eu nunca tinha visto, a menina que estava no registro disse que esse filme já havia sido alugado há 15 dias pelo meu pai. Fiquei meio que em choque, estava de carro com meu pai, entrei no carro para voltar para casa muda.

Não consegui ver o tal filme, o pensamento para que ele pegou o show e onde viu me perseguiu por todo o feriado, afinal o único aparelho de DVD de minha casa fica no meu quarto.

Agora pouco, seu celular tocou, ele estava no banheiro, minha mãe foi atender, ele chegou na hora e perguntou qual era o número e insistiu para ela não atender...

E eu tenho que me controlar, para não perder o restinho de liberdade que tenho aqui, tenho que aprender a viver com eles. Na mentira, nas suspeitas, isso é horrível.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Retraimento

Ingressei na escola com apenas 3 anos de idade, minha mãe e madrinha decidiram me colocar na escola devido ao falecimento de uma avó que eu passava o dia com ela, para não estranhar a ausência dela me colocaram na escola.

Naquela época escola pública tinha o jardim, o que hoje corresponde ao primeiro, segundo e terceiro período. E lá ia eu todas as manhãs, com minha mãe e irmã para a escola que ficava no final da rua onde eu morava.

Eu era muito pequenina mas me lembro que no horário do recreio, quando estávamos lanchando, olhava em volta e não via ninguém familiar, só a “tia” e meus amiguinhos, parecia que o mundo girava ao meu redor, as pessoas iam e vinham no meu olhar, eu ficava apavorada, queria fugir dali e abraçar alguém conhecido, familiar, então em desespero eu chorava.

Então a “tia” me levava para a sala da minha irmã, que estava na época, na terceira série da mesma escola, então eu me sentava do lado dela, ficava desenhando até a hora da saída dela.

Quando ela ia fazer o dever de casa, eu acabava a ajudando, lembrava o que a professora dela havia dito em sala e repetia a ela, apesar de falar muito errado, mas falava o que a professora dela havia dito. As palavras daquela professora não me saiam da mente, era algo que assustou muita gente, inclusive na escola.

Encaminharam-me para uma psicóloga e esta não detectou nenhuma anormalidade. Então fui “liberada”. Essa fase durou dois anos. Até que minha mãe inventou um remédio: água com açúcar – eu não sabia o que era, mas não me fazia chorar. Porém eu me destaquei na classe do jardim 3, pois já conhecia as letras, os números, etc. meus amiguinhos com então 6 anos e eu com 5 anos, a mais nova e a que sabia mais, isso me confundia pq eles não sabiam e eu sabia. Era confuso para minha cabeça, me sentia diferente, sentava sozinha numa mesa ao lado da professora por opção, e na hora das brincadeiras eu não brincava, ficava só olhando, se alguém insistisse eu chorava, passava mal.

Fobia social provocada por diferença de conhecimento, e tenho isso até hoje, não consigo manter um diálogo saudável com alguém sem um nível de conhecimento como o meu, parece arrogância, mas acabo me retraindo e passando por antipática (sem querer impor nada, mas por ficar calada), tímida, seca. Não tenho preconceito, aprendi muito com pessoas analfabetas coisas sobre a terra, etc, mas eu tenho esse bloqueio de me retrair.

Insônia

Você já se perguntou por que tem insônia?

Quando eu tinha oito onze anos de idade morava numa grande capital, porém numa pequena casa, que se restringia a quarto, sala, cozinha e banheiro.

Morava eu, meus pais e uma irmã, com quem eu dividia o quarto. Foi uma infância humilde, sem muito luxo, mas feliz. Estudava, tinha muitos amigos, morávamos perto de uma subida de um morro, mas naquela época ainda era calmo.

Meus pais dormiam no chão da sala, pois a casa havia só um quarto. Minha irmã é mais velha do que eu cinco anos e nessa época, ela já começava a sair para os famosos HI-FIs, e eu deitava na cama de baixo do beliche e ia dormir.

Numa certa noite que minha irmã não estava, eu demorei a dormir e pude ouvir meus pais em um de seus momentos íntimos, os gemidos não me deixavam dormir, as palavras que ouvia, era torturante, não por nojo, algo assim, mas por eu ser filha e estar escutando os pais em um momento daquele e não saber o que fazer.

Fechava os olhos, cantava baixinho, tampei os ouvidos me encolhi, mas os gemidos não saíam da minha cabeça.

Atualmente não tenho nenhum problema sexual, os remédios não tiram minha “libido”, não tenho compulsão, mas esse fato ficou marcado na minha lembrança. No entanto esse fato me deixou uma seqüela ... INSÔNIA, desde esse dia, meu sono se tornou irregular, “leve”, etc.

Tenho consciência também que não foi só isso que me levou a desenvolver um distúrbio bipolar de humor, mas que pode ter colaborado isso com certeza.

À noite

À noite quando me deito minha mente é um liquidificador, trituram-se idéias, mistura-se projetos, a cabeça chega a esquentar e animar-me.

A manhã chega e as idéias se foram e levam com elas toda aquela animação e motivação, chega a ser desolador, procuro rumo, ma o único que encontro está em meu travesseiro.

Chega a ser incômodo ver pessoas felizes, pessoas com seus pares, pessoas trabalhando e eu ali prostrada. Falta luz, falta harmonia, falta vontade.

A poesia da noite se esvaeresse no alvorecer, os pássaros não cantam mais, as estrelas não brilham mais, a vida é apenas noturna, no silêncio e na solidão.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

quem eu quero

Não esperava flores do meu amor,

Queria algo além de romantismo,

Talvez o que eu procurasse fosse um ser humano

Cultura nunca é demais

Não procuro quem me diz eu te amo,

Mas quem consiga conversar por sessenta minutos

Minutos esses sem falar de sentimento ou sexo

Sem perguntar como sou ou o que faço

O romantismo é o complemento da essência

Essência do amor.

Não procuro minha cara metade, já sou completa

Poderia até me autoamar em todos os sentidos

Mas procuro alguém que compartilhe comigo

Não só amor, mas palavras.

Não, não é um simples amigo.

É um ser humano capaz de compartilhar

Jamais somar ou dividir

Tão pouco me completar.

PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER.

As vezes me sinto um ET.

PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER.

Ou como diria o Marvin do filme Guia do Mochileiro das Galáxias, para que uma mente tão grande para ver o que vejo.

Não sei se sou idiota demais, ou inteligente. Prefiro nem gritar por Deus, ele deve estar envergonhado dos nossos parlamentares abrir uma sessão para interferir na decisão do presidente DE OUTRO PAÍS.

PAREM O MUNDO QUE QUERO DESCER.

Sinceramente não reconheço o parâmetro ainda entre meu distúrbio e minha realidade enquanto ser humano, eu me preocupo com o aquecimento global, e com a limpeza hospitalar. Me preocupo ler uma boa revista ao invés de ler o capítulo desta noite da novela.

PAREM O MUNDO QUE QUERO DESCER.

Há quem pare para ver um programa em que se entrevista uma mulher que canta palavrão, e há quem perca tempo procurando uma frase que caiba em qualquer ritmo. Fala sério né Sr. Jô Soares.

PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER.

Há quem ache mais importante uma IMC baixa do que a mulher saber filosofia. Ah e por favor não confundam filosofia com história da filosofia, está certo que sou consumista inveterada de conhecimento e cultura, mas gastar dinheiro e um bom tempo em viagem para escutar o que leio em qualquer livro didático de filosofia, isso é detestável.

PAREM O MUNDO QUE QUERO DESCER.

Seria eu um Et? uma bipolar? ou um ser humano normal?

O que querem de nós

É engraçado a Internet, principalmente os sites de relacionamento, o Paltalk em especial, pessoas se reúnem em salas, ditam regras a serem cumpridas dentro das mesmas, fazem amizades – quando querem - tocam suas músicas. Mas na realidade existe um outro interesse por trás: não se sentir só, arrumar seus pares.


Parece que não são só os bipolares que têm essa dificuldade de relacionamento. Seria cabível na nossa concepção um amor à distância, distância inclusive de países? Depois nós somos os loucos.


Paramos num programa ouvindo uma boa música, às vezes com um bom papo, e de repente, pluft!!! Sabemos da vida de uma pessoa, ela se confidencia conosco, sem saber quem somos, arrumamos um par para elas, elas se apaixonam, desabafam nas tristezas, nos desencontros, ajudamos amigos, os aconselhamos, um mundo fantástico em nossas mãos, somos DJs e psicanalistas, além de cupidos.


Doce ilusão, quando estamos de baixo astral essas mesmas pessoas não querem nos ouvir, não respeitam nossos sentimentos, querem curtir a noite e quer que você esteja ali, firme e alegre. Para animar a noite delas, mas elas se vão e você fica ali mentindo uma felicidade, mentindo que está tudo bem, e elas nem aí, já estão no sossego de suas camas.


Foi assim comigo, conheci amigos, rimos, formaram-se os pares, abri salas, fiquei sozinha na vida e na sala, até a última pessoa querer parar de tocar música, uma desconhecida ainda, pois os amigos que tanto queriam se divertir foram dormir, pois amanhã é outro dia.